sábado, 7 de julho de 2012

Reflexão Pessoal


A criação deste e-portefólio, a título de avaliação pessoal, inserido na unidade curricular de “Sistemas Educativos: Organização e Avaliação” revelou-se, de início, uma tarefa aparentemente difícil. Porém, a experienciação, a partir da ajuda tutorial disponibilizada pelo professor, rapidamente permitiu ultrapassar esse dificuldade e fazê-lo nascer.
O meu compromisso para com este espaço de reflexão foi o de, nele registar, tudo o que de importante fosse trabalhado nesta interessante Unidade Curricular do mestrado em Supervisão Pedagógica. Foi desta forma que, à medida que os temas constantes do seu plano curricular foram sendo apresentados, na sua sequência temporal, e na preparação individual que fui desenvolvendo a partir dos recursos disponibilizados e ou sugeridos, e ainda de outros a que recorri, por minha iniciativa, me comprometi, a registar, numa espécie de texto-síntese, o “sumo” que consegui angariar de cada um dos temas de trabalho apresentados.
É desta forma que, na sua estruturação, este e-portefólio segue, cronologicamente, a sequência temporal dos temas trabalhados, a saber: Tema I – “Mutações Sociais e Sistemas Educativos”; Tema II – “Modelos e Tendências Evolutivas nos Sistemas Educativos Europeus”; Tema III – “Os Sistemas de Educação e Formação para a Europa do Conhecimento”; Tema IV – “A Regulação dos Sistemas Educativos”; Tema V – “As linhas Mestras da Avaliação dos Sistemas Educativos”. De cada um deles, no respeito pelos prazos de trabalho/preparação indicados, foram surgindo os respetivos textos-síntese.
 No apuramento final de cada texto-síntese, para além da informação recolhida nos muitos instrumentos de trabalho disponibilizados, foi bastante enriquecedor o contributo das discussões em grupo-turma, desenvolvidas na sala de aula virtual criada para cada tema, ampla e profusamente participadas por parte de muitos colegas. Nessas discussões pude  apreender, ampliar, valorizar, introspecionar-me  e refletir sobre muitos aspectos que,  apenas pela leitura individual, não teria tido oportunidade de interiorizar. Desta forma, no seu cômputo global, estas discussões foram positivas e bastante enriquecedoras. De salientar o grande contributo dado pelo professor António Moreira, titular desta Unidade Curricular, ao dinamismo e vivacidade de cada espaço de discussão, com o seu feedback incisivo, bem humorado e atempado, que se revelou uma espécie de “lufada de ar fresco”, reacendendo e animando cada debate desenvolvido.
Entre sínteses, alguns documentários, retirados do youtube, direta ou indirectamente relacionados com os sistemas educativos e a sua amplitude, pretendem ilustrar a importância da sua adaptabilidade à sociedade hodierna, mas também as consequências de algumas das suas políticas e/ou da sua própria miopia.
 E foi desta forma que, começando a unidade curricular pela viagem “à volta do mundo”  impulsionada nas preocupações  e responsabilidades relativas à Educação e aos Sistemas  que a suportam, numa tentativa global de fazer face a uma economia cada vez mais globalizante e assente no conhecimento, pude apear-me no espaço europeu e conhecer  em pormenor  a diferente organização dos seus sistemas educativos, unida porém por preocupações cada vez mais comuns e supranacionais para, posteriormente, aterrar confortavelmente em casa e causa próprias e de perto, poder encerrar com chave de ouro, esta magnífica viagem de conhecimento dos Sistemas Educativos, da forma como se organizam e das estratégias que vêm desenvolvendo, na sua  própria avaliação.
Participar desta unidade de estudo, para além de um aliciante desafio, foi uma autêntica maratona de construção de conhecimento.
A mestranda
angela silva

Tema V - "AS LINHAS MESTRAS DA AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS EDUCATIVOS"



 A necessidade de avaliação da educação

Há um “consenso generalizado de que a Educação, pela qualidade do capital humano que forma, é um factor decisivo na economia de um país” (p.1) [10]. Nesta conformidade, os governos de muitos países, confrontados com resultados decepcionantes e com níveis de insucesso elevados e indesejáveis, relativos à numeracia e literacia das suas populações estudantis, constatados em programas de avaliação, de aplicação supranacional, têm evidenciado o seu interesse e a sua preocupação nos sistemas educativos, quer no que respeita à eficácia da escola, quer, nos últimos tempos, no que à qualidade da própria acção docente, se refere.
Torna-se tendência corrente a introdução de medidas de prestação de contas, exigidas às escolas públicas, de forma a assegurar que estas atinjam padrões de desempenho que garantam a qualidade máxima da educação, para desta forma, enfrentar a globalização. Este sistema de prestação de contas, orientado para objetivos e resultados, passa a ser implementado em muitos países da União Europeia que ainda não o haviam desenvolvido, “principalmente a partir do compromisso político comum assumido no Conselho Europeu de Lisboa, em 2000, de ´transformar a economia europeia na economia do conhecimento mais competitiva do mundo`” (ibidem, p.1).
 É deste modo que “a agenda política europeia elege como conceitos – chave, na preparação para os desafios da sociedade do conhecimento do século XXI, ´a eficácia educativa, o desenvolvimento profissional de professores e a cultura de avaliação do desempenho organizacional` ” (p.2) [10].
“A implantação do processo de avaliação das escolas constituiu uma das respostas das autoridades políticas e dos responsáveis pelos sistemas educativos no sentido da melhoria da eficiência e da eficácia na gestão dos recursos públicos atribuídos à educação”(p.38) [11].
O enfoque na preparação dos alunos, em termos de educação e de aprendizagens, tem sido, nos últimos tempos, uma questão fundamental para a Administração, diretamente assumida pela Inspeção Geral da Educação. Esta tem vindo a “eleger como questões centrais no seu programa de trabalho acompanhar o sucesso dos alunos e monitorizar e avaliar as condições que estão a ser criadas em cada escola para pôr o sucesso ao alcance de todas as crianças e jovens, independentemente das variáveis do seu contexto familiar” (p.216) [4].
A modernização dos sistemas educativos, passa a centrar-se no desempenho profissional dos professores e na eficácia do ensino. Sinais dessa modernização evidenciam-se: (i) na valorização crescente de uma cultura de desempenho e de medição comparativa da eficácia do corpo docente; (ii) no aumento, cada vez mais significativo, dos mecanismos de prestação de contas aos parceiros de cada comunidade educativa; (iii) na necessidade de auto-avaliação da escola e no consequente desenvolvimento de uma cultura de auto-aprendizagem, direccionada para a melhoria dos seus níveis de eficiência e de eficácia; (iv) na importância da formação contínua dos docentes e do seu desenvolvimento profissional; (v) na preocupação com o sucesso escolar de todos os alunos, independentemente da sua origem social (p.2) [10].

  Sentidos e modalidades de avaliação da Educação

 “A avaliação da educação deve ser entendida em sentido amplo. Não visa, unicamente, a oferta formativa e os métodos de ensino mas também os financiamentos, gestão, orientação geral e a prossecução de objectivos a longo prazo. Remete a noções como o direito à educação, equidade, eficiência, qualidade (e) aplicação global de recursos (…) (sendo necessário) desencadear um dispositivo de avaliação objectivo e público de modo a apreender a situação do sistema educativo, assim como o seu impacto no resto da sociedade” (pp. 170- 171) [6].
 A tendência crescente de descentralização, por parte dos sistemas educativos europeus tradicionalmente centralizados, e a consequente conceção de margens, sempre maiores, de autonomia, às organizações escolares permitiu o surgimento de um “paradigma de governança em todos os níveis de decisão política” (p.40) [13]. Jessop (2003, p. 1), citado por Simões (p.40) [13], define governança como a “arte complexa de conduzir múltiplas agências, instituições e sistemas, que são simultaneamente autónomos uns dos outros e estruturalmente agregados através de diversas formas de interdependência”. Esta governança, segundo Hooghe & Marks (2001), citados por Rufino (p.32) [12], “encontra (se) associada genericamente à dispersão das hierarquias e das instâncias de decisão sobre terrenos sociais muito abrangentes, acarretando como consequência uma perda de influência da autoridade central do Estado e de afastamento das lideranças políticas”, exigindo que “´os parceiros sociais se comprometam com uma auto-regulação da conduta, em nome de um projecto social`, funcionando o Estado como um parceiro entre outros, legitimando-se na sua capacidade de ´persuasão moral` e de ´mediação da inteligência colectiva`” (Jessop, 2003, pp. 12-13, apud Simões, 2007, p.40) [13].
“Associar os diferentes atores sociais à tomada de decisões constitui (…) o meio essencial de aperfeiçoamento dos sistemas educativos” (p.172) [6]. É neste lema que se constata “uma maior ênfase conferida à autonomia da escola, fenómeno que se encontra associado à importância que se atribui à criação de uma cultura de avaliação em todos os aspectos do sistema educativo” (p.10) [7].
É importante “uma ampla descentralização dos sistemas educativos, apoiada na autonomia das escolas e na participação efectiva dos agentes locais. (…) A autonomia dos estabelecimentos de ensino reveste-se de diferentes aspectos. (…) De uma maneira geral convém desenvolver, em cada estabelecimento de ensino, processos que definam o papel dos diferentes atores, favorecendo a cooperação entre professores, direcção e pais, assim como o diálogo com o conjunto da comunidade local. A prática da negociação e da conciliação na gestão de estabelecimentos de ensino e na vida escolar constitui (…) um factor de aprendizagem democrática”(p.173) [6]. Segundo Barroso (2005), “é pelo reforço da sua identidade e da sua autonomia que as escolas podem identificar-se com um determinado território educativo e associarem-se a outras escolas para a resolução de problemas comuns” (p.139) [3].
São exemplos desta “territorialização” das políticas educativas a criação de redes, formais ou informais, entre escolas, visando: (i) “a emergência de territórios (…) que dão sentido à relação das escolas com o espaço local”; (ii) “a coerência de um sistema educativo local, assegurando a continuidade entre diferentes níveis e estabelecimentos de ensino”; (iii) “a complementaridade dos recursos educativos através da cooperação entre as escolas, em diferentes domínios, nomeadamente, da gestão” (ibidem, p.139).
 “Avaliar uma escola não é uma questão de medir variáveis, de uma maneira ou de outra. É antes uma questão de saber até que ponto ´as pessoas` são centrais no programa de acção de cada escola. Tal significa saber em que medida os alunos, e as suas necessidades de aprendizagem vêm em primeiro lugar nas prioridades da escola e dos seus agentes, e em que medida a escola é um centro de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal e profissional, para crianças, jovens e adultos” (p.216) [4].
Na sua abrangência, a avaliação das escolas tem por objetivo “dar voz a todos, como forma de recordar que todos devem ter voz, (…) (consubstanciando-se na) audição de diversos membros da comunidade educativa e dos parceiros da escola. Constituindo uma forma efectiva de recolha de informação pertinente (…), visa também reconhecer a importância da participação dos actores locais na vida da escola: pais, autarcas, empresas, associações culturais e outros estabelecimentos de educação e ensino”(p.12) [7].  
A avaliação das organizações escolares estrutura-se em duas modalidades: a avaliação externa e a avaliação interna ou auto-avaliação. Em conjunto, avaliação externa e auto-avaliação têm sido apresentadas como duas vertentes de uma mesma estratégia de pressão às escolas, no sentido de ser prestada uma maior atenção às questões das aprendizagens e reduzir o nível de desperdício e de ineficiência do sistema educativo; questionar o rigor e a adequação da preparação e formação inicial e contínua dos professores e criar condições para rever a sua organização e funcionamento. (p.190) [4].
 A avaliação externa e a auto – avaliação são, assim, duas abordagens que se complementam na promoção da eficácia das organizações escolares, visando a maximização das aprendizagens dos seus alunos numa “relação estrita e complementar (…) enquanto processo contínuo que envolve os actores (…) nas acções de melhoria das escolas” (p.6) [9]. A auto-avaliação das escolas, que emerge “nas políticas educativas no quadro de novos referenciais e de novos instrumentos de governança, associada a conceitos como eficácia, eficiência e qualidade” (p.39) [13], complementada pela avaliação externa e pelos espaços de autonomia de que goza cada organização escolar, “é um instrumento de desenvolvimento das escolas enquanto instituições com um projecto próprio e mobilizador dos seus recursos e das suas competências” (p. 60) [9]. Esta modalidade de avaliação combina fontes e processos variados de recolha de informação e cruza fontes e olhares diversos, de modo a alcançar uma compreensão mais profunda das escolas e das “dificuldades que enfrentam para prestar um serviço educativo de melhor qualidade e de maior equidade” (ibidem, p.12).
 Roullier (2004), citado por Alves & Teixeira (2011) afirma que “dar relevo às práticas da auto-avaliação de escola é abrir uma porta ao desenvolvimento da profissionalização do seu corpo docente, enquanto ator colectivo ao serviço do sucesso dos alunos e da melhoria da qualidade da escola” (p.155) [2].
 Conforme já afirmado, enquanto instrumento de regulação pública, a auto-avaliação “é tida como a expressão de referenciais de conhecimento que induzem novas modalidades de governança” (p.32) [12].Torna-se, assim, importante “a produção de conhecimento situado, não num sentido instrumental e pragmático, para dizer às escolas como fazer, mas num sentido compreensivo, levantando pontas de questionamento que aumentem a ´reflexividade critica dos actores` e reforcem a componente cognitiva dos processos de auto - avaliação e regulação.” (Martuccelli, 2002, p. 28, citado por Simões, p.41) [13].
Atendendo a que “sem referências, a auto-avaliação pode ser produzida como uma estratégia débil e pouco exigente” (p. 221) [4], na sua avaliação interna a escola não pode dispensar a existência de informação de referência, de diferente natureza, que deve utilizar comparativamente na formulação de juízos, na intenção de compreender até que ponto é semelhante ou diferente das restantes organizações escolares. Nesta aceção, é cada vez mais pertinente a avaliação comparada ou benchmarking.
O benchmarking, que etimologicamente, significa “marcar o lugar” (p.230) [4] é habitualmente utilizado como “comparação referenciada a padrões de desempenho, ou a desempenhos melhores na mesma categoria, isto é, de sujeitos ou organizações com as mesmas características ou nas mesmas condições, mas cujo desempenho é melhor, globalmente ou em aspectos chave” (Ibidem, p, 230). Macbeath e McGlynn (2002), citados por Clímaco (2005) definem benchmarking como “o processo de medir e comparar padrões de um determinado desempenho com os alcançados por outros, identificar melhores práticas e desencadear os passos necessários para melhorar ou progredir”. O benchmarking pode referir-se a “dados de desempenho, práticas, comportamentos, atitudes ou percepções (…) (e) tem implícito um conjunto de procedimentos de aferição ou de comparação de processos e de resultados, que passam pela identificação de referentes para essa comparação, e pela marcação de metas de progresso” (p. 230) [4].
Segundo Clímaco (2005) a “comparação referenciada” ou “benchmarking” é uma técnica muito usada nas organizações que se orientam para o desempenho, na medida em que a aferição contribui: para concentrar a atenção e as energias nos conteúdos e no desempenho do trabalho, desencadeando processos de aprendizagem; para combinar o conteúdo do trabalho com modelos de formação tradicionais e com o desenvolvimento de lideranças indispensáveis e para introduzir mudanças culturais significativas nas organizações” (p.233) [4].
MacBeath e McGlynn (2002), citados por Clímaco (idem), consideram mesmo que ao formalizar o benchmarking, através do Método Aberto de Coordenação (em março de 2000, na Cimeira de Lisboa) “os governos tornaram mais exigentes os desafios que se colocam às escolas e fizeram da prestação de contas um processo mais transparente” (p.235) [4].
Cada organização escolar, ao incluir no produto da sua avaliação a “comparação referenciada ou ´benchmarking`, abre caminho a um novo ciclo de gestão e de auto - avaliação, que pode viver, durante um certo período, da acumulação dos ´bens de conhecimento` e da ´cultura de exigência`, ou de qualidade, adquiridos. São estes dois elementos que irão fazer progredir o desempenho global e fazer sentir a necessidade de encontrar novos parceiros, numa outra categoria de desempenho, para um novo processo de ´benchmarking`” (p.243) [4].
Por sua vez, o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, a partir da prática da auto-avaliação, deve prever “diferentes modalidades de retorno de informação (feedback) que realimente as motivações e o empenho dos empreendedores. A meta-avaliação constitui uma poderosa modalidade de produzir informação de retorno (…) porque vai ´pôr à prova` o nível de maturidade e de conscientização da cultura de avaliação existente na escola e pondo-a à prova reforça-a, porque reforça a autonomia da escola e a maturidade profissional da sua comunidade educativa” (p.229) [4].
Porém, para que a meta-avaliação seja uma realidade “é fundamental estabelecer o equilíbrio entre a avaliação interna e a avaliação externa, o que depende do tipo de instituição que é responsável pela avaliação externa, do modo como a escola aderiu à auto-avaliação e dos instrumentos de trabalho que utiliza. Quando as escolas são induzidas a utilizar os instrumentos de trabalho usados na avaliação externa como apoio à sua auto-avaliação e os seguem em exclusivo, as suas motivações, muitas vezes, são mais de conformidade do que de conceber e pôr em prática um programa e uma estratégia de desenvolvimento interno. Quanto mais obrigatória se torna a auto-avaliação e quanto maior for a exposição pública das escolas, mais o processo se converte numa prestação de contas, mais ritualizada e burocratizada se torna e mais se reduz o seu potencial como estratégia de desenvolvimento institucional e profissional e o empenho dos que se lançaram nesse empreendimento. Haverá sempre algumas mudanças, mas tendem a ser superficiais e de curta duração” (p.229) [4].
 Em síntese, “a avaliação deve consubstanciar dois objectivos: por um lado, deve construir-se na negociação com os actores socioeconómicos e com os interesses constituídos e, por outro, deve prestar contas” (p.39) [11]. É desta forma que a avaliação das instituições escolares, nas suas diversas modalidades, tem vindo a ser cada vez mais utilizada “como condição sine qua non para o desenvolvimento de processos de prestação de contas e de responsabilização (accountability). Ou seja, a prestação de contas, como ato de justificação e explicação do que é feito, como é feito e porquê é feito, implica (…) que se desenvolva alguma forma de processo ou de avaliação ou auto-avaliação” (p.84) [1].

Políticas e quadros de referência na avaliação das escolas e dos docentes

“O crescente protagonismo da avaliação nas políticas educativas contemporâneas não confere à avaliação educacional apenas uma dimensão política (…) mais do que isso (…) remete (…) para a sua natureza política” (p.72) [8]. É nesta conformidade, que uma das funções principais da avaliação é também política. A avaliação de um programa leva à tomada de decisão sobre a adoção ou continuação de um determinado plano de acção. Assim, torna-se relevante a função de recolha de informações e a comunicação dessa recolha àqueles que têm de tomar decisões. Desta forma, os dados da avaliação devem ser constituídos por informações claras, exatas, válidas e amplas, de modo a que quem decide fique com um conhecimento completo da realidade (p.16) [5].
 O processo de desenvolvimento de qualquer avaliação deve ancorar-se num conjunto de elementos que sirvam de referência ao seu desencadeamento, ou seja, deve estruturar-se em referenciais com os quais o objecto da avaliação vai ser relacionado e que variam, necessariamente, em função do objecto a ser avaliado. “O conceito de referencial (…) designa os quadros de representação e de inteligibilidade do mundo que sustentarão as políticas públicas e explicarão as suas mudanças. (…) O referencial global, ou referenciais globais, deverão pois influir não apenas no modo de perceber e viver a avaliação pelos atores, mas também na própria referencializacão de dispositivos e instrumentos” (p.41) [13]. Segundo Figari (1996), citado por Graça et al. (2011), “a referencialização surge enquanto método de delimitação de um conjunto de referentes que garanta que a avaliação é uma construção na qual os próprios atores se envolvem e contribuem” (p.26) [5]. Só desta forma “os referenciais de avaliação e os instrumentos adotados representam (…) informação estratégica para os atores escolares, tal como (…) os resultados produzidos e as suas eventuais consequências” (p.73) [8].
Enquanto complexo de práticas sociais e escolares, para ser concretizada, a avaliação não depende apenas de decisões politicas mas também e, sobretudo, da “referência a contextos organizacionais concretos e a aparelhos mais ou menos complexos de administração”(p.72) [8].
Lise Demailly (1998), citada por Simões [13], aponta “quatro lógicas presentes na avaliação de escolas: a lógica persistente dos meios; a lógica do modernismo organizacional com uma centralidade forte e os professores como quadros; a lógica propriamente neoliberal e do mercado escolar; a lógica do projecto crítico e democratizante, contra o insucesso, pelo trabalho de equipa intra e inter-profissional, com regulação política central e regulações locais (p. 42) [13].
Pressupõe-se, então, que de um ponto de vista estratégico, o encontro de lógicas distintas num contexto organizacional regula e amplia a racionalidade da acção e, consequentemente, o seu grau de satisfatoriedade. (p.42) [13]. A tendência crescente de desenvolvimento de políticas orientadas para a performance competitiva, tem conduzido a uma revalorização da racionalidade técnico-instrumental com a emergência de fenómenos simultâneos de crítica à burocracia pública estatal e de defesa de modelos pós- burocráticos, originando políticas avaliativas complexas e, por vezes, híbridas (p.72) [8]. Este “conhecimento focado na performance das escolas não se exerce no plano exclusivamente ´técnico`: a sua difusão transporta também um potencial regulador que propõe aos actores modos de regulação alternativos que substituam a compulsão pela persuasão e surjam associados a uma ideia de qualidade e boas práticas na prestação de um serviço público” (p.33) [12]. É um regime que, como observa Barroso (2005) citado por Rufino (ibidem, p.33), trata de substituir um controlo directo e apriorístico sobre os processos, por um controlo remoto e, a posteriori, incidente sobre os resultados.
Deste modo, têm sido desenvolvidos “instrumentos de avaliação de escolas, professores, manuais escolares e currículos, visando melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem segundo critérios de elevada exigência e rigor” (p. 10) [7]. As novas formas de regulação e de integração dos sistemas públicos tornam-se aplicações instrumentais de processos de conhecimento que passam por referenciais de comparação e lógicas de eficiência que influenciam a decisão politica (Ozga, 2006, citado por Rufino, p.32) [12].
É convicção crescente e, socialmente, cada vez mais generalizada, que uma das variáveis mais importantes na determinação do sucesso dos alunos, é atribuída ao professor e à qualidade das suas práticas. Professores empenhados, comprometidos com a aprendizagem dos seus alunos mostram, de facto, resultados muito mais amplos e eficazes do que aqueles que se limitam a exercer papéis de agentes de ensino. Desta constatação emerge “uma atenção renovada pelas estratégias de avaliação de professores e (…) uma reorientação política quanto às grandes finalidades e objectivos gerais da avaliação. Estes, devem passar pela sua responsabilização e prestação de contas, por um lado e pelo desenvolvimento profissional, por outro. O objectivo da prestação de contas tem a ver com o dever social de o professor informar a comunidade local e nacional dos resultados do seu trabalho. O objectivo de ´apoio ao desenvolvimento profissional` reflecte a necessidade de o professor promover o seu desenvolvimento pessoal e profissional para melhorar permanentemente, e ao longo da vida, os seus conhecimentos, capacidades, atitudes e valores e a qualidade do seu trabalho” (pp.2-3) [10].Na percepção de Ramos (n.d) “a preocupação maior, a grande finalidade da avaliação, é obter a melhoria dos resultados dos alunos e a eficácia da acção docente” (p.4) [10].
Neste pressuposto, tem todo o cabimento a ênfase que vem sendo dada à “avaliação formativa, de regulação e de acompanhamento, cujos resultados darão lugar (…) a programas de formação contínua e ao recurso de variadas estratégias e metodologias, cuja frequência e utilização ajudará os professores a refletir sobre os princípios, os valores e as conçeções que, por um lado, lhes são anteriores, exteriores e até mesmo superiores, mas que, por outro, evoluem e se alteram face aos riscos da democracia” (pp 5-6) [5].
 “A mudança de perspectiva que emerge neste processo contínuo de balanço entre os dois pólos – a responsabilização e prestação e contas e o desenvolvimento profissional – como traço significativo quanto à avaliação de professores está igualmente associada ao facto de se considerar que a melhoria do ensino e das aprendizagens deve observar-se em comparações referenciadas (benchmarking), colocando a ênfase nos resultados obtidos, em particular nas formações estruturantes”. (pp. 3-4) [10].

A avaliação das escolas em Portugal

Apesar de contemplada na Lei 46/86 de 14 de Outubro (LBSE), no seu artigo 49º, ponto 1, que afirma que o sistema educativo deve ser objecto de avaliação continuada, só no final de 2002 foi publicada a lei que aprova e define o sistema de avaliação da educação e do ensino não superior concretizando, desta forma, o previsto na Lei de Bases do Sistema Educativo.
A primeira experiência de avaliação, em Portugal, decorreu entre 1997/1998 e 2001/2002, quando a Inspeção Geral da Educação desenvolveu um programa de avaliação externa das escolas – a avaliação integrada – que compreendeu a conceção de um modelo de avaliação externa a ser replicado ou adaptado pelas escolas na sua auto avaliação, a elaboração de roteiros de observação do desempenho para todos os níveis e ciclos de educação e de ensino, o desenho de uma metodologia de intervenção distinta da cultura introspectiva tradicional e a formação dos inspectores (p.217) [4]. No final de 2002, a Lei nº 31/2002, de 20 de dezembro, finalmente normativizou o sistema de avaliação dos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário e definiu as orientações gerais para a auto-avaliação e a avaliação externa.
 Devidamente regulamentada, a avaliação externa das organizações escolares portuguesas arrancou, no ano escolar de 2005/2006, em projecto-piloto constituído por 24 escolas, realizada pelo então criado Grupo de Trabalho para a Avaliação das Escolas.
 Na visão da Inspeção Geral da Educação, “a escola é o primeiro destinatário e a unidade central de análise, pois a avaliação externa pretende, antes de mais, constituir-se como um instrumento útil para a melhoria e o desenvolvimento de cada escola” (p.9) [9]. “Entendemos a Avaliação Externa das Escolas como um contributo pertinente para o desenvolvimento organizacional (…) e para a melhoria da qualidade das aprendizagens e dos resultados escolares dos alunos. Através de um melhor conhecimento de cada escola, em particular, e do serviço educativo, em geral, pretende-se incentivar práticas de auto-avaliação, promover uma ética profissional marcada pela responsabilidade, fomentar a participação social na vida escolar e contribuir para que as crianças e os jovens encontrem nas escolas espaços educativos que os sirvam cada vez melhor” (Ibid., p.5).
Entre as ambições da avaliação externa encontra-se a expectativa de fomentar, em cada escola intervencionada, a auto-avaliação e a oportunidade de melhoria, se os seus resultados forem usados como instrumento de reflexão e de debate. “Ao identificar pontos fortes e pontos fracos, bem como oportunidades e constrangimentos, a avaliação externa oferece elementos para a construção ou o aperfeiçoamento de planos de melhoria e de desenvolvimento de cada escola, em articulação com a Administração Educativa e com a comunidade em que se insere” (p.12) [9].
A autoavaliação das escolas públicas, prevista na lei desde dezembro de 2002 (Lei nº 31/2002), implementa-se, em muitas escolas, condicionada pela avaliação externa da responsabilidade da Inspeção Geral da Educação. Sendo que o principal objectivo da avaliação externa é a revalidação da autoavaliação, torna-se fundamental o equilíbrio entre as duas formas de avaliação, já que a avaliação externa vai corresponder a uma meta avaliação e concentrar-se na aferição dos níveis de rigor e de efetividade das políticas educativas de escola e dos seus mecanismos de controlo; nos processos de autoavaliação dos alunos e no progresso qualitativo da escola. Quando as escolas se limitam a adotar os instrumentos de avaliação disponibilizados pelos avaliadores externos para se auto avaliarem e não constroem os seus próprios instrumentos de avaliação as suas motivações são apenas de conformidade e como tal, insuficientes para construírem um programa de desenvolvimento endógeno e contextualizado que permita o crescimento da organização escolar como comunidade aprendente. Nesta situação, “haverá sempre algumas mudanças, mas tendem a ser superficiais e de curta duração” (p.229) [4]. Segundo Lima, (2011) “esta filosofia avaliativa, mais orientada para a confirmação ou a infirmação do que para a descoberta, (…) mais contábil ou calculativa do que heurística e interpretativa, tende a conferir menor protagonismo à avaliação dos processos e às dimensões programáticas e políticas, e maior centralidade à avaliação dos produtos ou resultados, à quantificação, à comparação e hierarquização. (…) Embora procure avaliar as organizações, os atores ou as práticas escolares, este tipo de avaliação transcende-os completamente, está para além deles e quase inteiramente fora do seu controlo” (pp. 75-76) [8].
É desta forma que, nos últimos tempos, o nosso sistema educativo parece querer caminhar para uma nova recentralização do controlo das politicas educativas que, já não podendo ser exercida à priori, por conta da autonomia das instituições, passa a ser realizada à posteriori, baseada apenas nos resultados nos alunos. Prova desta tendência recentralizadora é a adoção de medidas de accountability, como é exemplo a reintrodução dos Exames Nacionais, nos anos finais de ciclo do ensino básico e no ensino secundário, e a utilização dos seus resultados, por parte da sociedade civil, para a elaboração de rankings de instituições escolares. Tal tendência não só tem provocado a emergência e o fortalecimento de fenómenos de mercado e de quase-mercado, na Educação, como o enviesamento dos currículos que passam a ser trabalhados em função desses exames e o mal-estar crescente entre instituições educativas e entre os próprios docentes, obrigados a reconfigurar as suas funções quotidianas, por pressão das próprias instituições escolares.

Conclusão

Almejando a eficaz preparação da sociedade para os desafios da globalização e colocando a ênfase dessa preparação na educação dos cidadãos, os sistemas educativos dos diferentes países têm sido alvo de profundas transformações e as suas instituições públicas, particularmente focalizadas. “As políticas de avaliação, de prestação de contas e de responsabilização (accountability) foram ganhando (…) imunidade às concessões político – ideológicas dos governos, disseminando e homogeneizando muitos dos seus efeitos” (p.87) [1] pelo menos em muitos países da União Europeia, como é o caso de Portugal, onde a avaliação das escolas públicas é uma realidade desde o ano de 2006/2007.
Qualquer avaliação, para além de servir de fundamento a novas políticas educativas, tem um valor pedagógico, na medida em que “dá aos diferentes atores um conhecimento mais perfeito da sua atuação, difunde (…) a capacidade de inovação, dando a conhecer iniciativas coroadas de sucesso e as suas condições de realização. No fundo, leva a considerar a hierarquia e a compatibilidade das opções e dos meios, à luz dos resultados” (p.171) [5].
 A avaliação interna das instituições, hoje, uma realidade, afigura-se como uma importante forma de produção de conhecimento situado, permitindo a reflexão e a aprendizagem, em conjunto, por parte dos atores nela envolvidos. Como processo de construção de conhecimento, a auto-avaliação das organizações escolares permite a utilização dos dados dessa avaliação nos processos políticos que estas protagonizam, constituindo um manancial de argumentos para a negociação e para a acção. “A ´cultura de avaliação` pode assim ser entendida como um processo intrínseco de construção, e não como uma condição ou uma finalidade da avaliação” (p.45) [13].
Porém, se a avaliação visa o reconhecimento das diferenças, a partir das quais se constrói um sistema competitivo e hierarquizado, é indispensável garantir que os objetos em comparação são comparáveis, ou seja, que a comparação seja assumida e faça sentido para os intervenientes. A construção de um sistema de avaliação, exige sempre um mínimo de convergência sistémica e a integração das unidades a serem avaliadas para que, posteriormente, se possa passar da “convergência normativa para a divergência competitiva e diferenciadora. Convergir para divergir, ou integrar para diferenciar, são os processos que permitem construir um sistema competitivo e hierarquizado, introduzindo a rivalidade como elemento central, pois entende-se que ´competir para progredir` representa um princípio incontornável (…) também na educação” (pp.76-77) [8].
Em jeito de conclusão, qualquer “sistema de accountability democraticamente avançado inclui a avaliação, a prestação de contas e a responsabilização, mas dentro de articulações congruentes que se referenciem ou sustentem em valores essenciais como a justiça, a transparência, o direito à informação, a participação, a cidadania” (p. 86) [1].

Referências bibliográficas:

[1]     Afonso, A. (2011). Questões polémicas no debate sobre políticas educativas contemporâneas: o caso da accountability baseada em testes estandardizados e rankings escolares. In: De Ketele, J-M. & Alves, M.P. (Orgs).Do currículo à avaliação, da avaliação ao currículo (pp.83-101). Porto. Porto Editora.

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Avaliação Externa das Escolas em Portugal


domingo, 10 de junho de 2012

TEMA IV - “A REGULAÇÃO DOS SISTEMAS EDUCATIVOS”



A _ Regulação dos sistemas educativos
1-  Conceito de regulação 
 “A regulação enquanto ato de regular significa o modo como se ajusta a acção (…) a determinadas finalidades, traduzidas sob a forma de regras e normas previamente definidas. (…) É vista como uma função essencial para a manutenção do equilíbrio de qualquer sistema (…) e está associada a processos de retroacção (positiva ou negativa). É ela que permite ao sistema, através dos seus órgãos reguladores, identificar as perturbações, analisar e tratar as informações relativas a um estado de desequilíbrio e transmitir um conjunto de ordens coerentes a um ou vários dos seus órgãos executores” (Barroso, 2005a, p.64).
Diebolt (2001, p.10), citado por Barroso (2005a, p. 65), entende o termo regulação como “o conjunto de mecanismos que asseguram o desenvolvimento dum determinado sistema, através de um processo complexo de reprodução e transformação. Neste sentido, a regulação postula que a transformação de um sistema é a condição indispensável à manutenção da sua existência e coerência”.
Christian Maroy e Vincent Dupriez (2000, p.76, apud Barroso 2005a), “consideram que quando aplicada às organizações ou sistemas de acção organizada ´a regulação é a resultante da articulação (ou da transacção) entre uma ou várias regulações de controlo e processos ‘horizontais` de produção de normas de organização".
Bauby (2002, p.15, citado por Barroso, 2005a, p.66), “reportando-se aos sistemas sociais, define regulação como: modos de ajustamento permanentes de uma pluralidade de acções e seus efeitos que permitem assegurar o equilíbrio dinâmico de sistemas instáveis (…). (Esta) resulta do facto de que as regras não podem prever tudo e por isso devem ser interpretadas, postas em causa (numa adaptação perpétua em função das situações e dos objectivos). A regulação de um grupo social corresponde assim, às interacções entre os interesses particulares de cada componente do grupo e o interesse comum ou geral do mesmo”.

2-  Dimensões do processo da regulação
Barroso (2005a), reportando-se aos trabalhos de Reynaud (1997 e 2003), considera que “é possível identificar três dimensões complementares do processo de regulação dos sistemas sociais: a regulação institucional, normativa e de controlo; a regulação situacional, activa e autónoma; e a ´regulação conjunta`” (Barroso, 2005b, p.730).
 Recorrendo a Maroy e Dupriez (2000), Barroso (2005b) apresenta o conceito de regulação institucional, normativa e de controlo como “o conjunto de acções decididas e executadas por uma instância (…) para orientar as acções e as interações dos atores sobre os quais detém uma certa autoridade” (idem, p.730).
A regulação situacional, activa e autónoma é definida pelo mesmo autor, citando Reynaud (1977), como “um processo de produção de ´regras de jogo` que compreende não só a definição de regras (normas, injunções, constrangimentos, etc) que orientam o funcionamento do sistema, mas também o seu (re) ajustamento provocado pela diversidade de estratégias e acções dos vários atores, em função dessas mesmas regras. De acordo com esta abordagem, num sistema social complexo (como é o sistema educativo) existe uma pluralidade de fontes, de finalidades e modalidades de regulação, em função da diversidade de actores envolvidos, das suas posições, dos seus interesses e estratégias” (Barroso, 2000, apud Barroso, 2005b, p:731).
“A ´regulação conjunta` significa a interacção entre a regulação de controlo e a regulação autónoma, tendo em vista a produção de regras comuns (Reynaud, 2003, citado por Barroso, 2005b, p:731).


3-  Formas de regulação dos sistemas educativos
Aplicando-se o conceito de regulação à descrição dos processos de coordenação das políticas e da acção educativa é possível identificar diferentes formas de regulação da educação, em função da sua origem e das modalidades que nela são utilizadas.

3.1- Em relação à sua origem
Em função da sua origem, “falamos de regulação transnacional; nacional e micro-regulação” (Barroso, 2005a, p.67).
Entende-se por regulação transnacional o “conjunto de normas, discursos e instrumentos que são produzidos e circulam nos fóruns de decisão e consulta internacionais, no domínio da educação, e que são tomados, pelos políticos, funcionários ou especialistas nacionais, como ´obrigação` ou ´legitimação` para adotarem ou proporem decisões ao nível do funcionamento do sistema educativo. (…) Tem origem muitas vezes nos países centrais e faz parte do sistema de dependências em que se encontram os países periféricos. (…) Outras vezes (…) resulta da existência de estruturas supra-nacionais (União Europeia) que mesmo não assumindo formalmente um poder de decisão em matéria educativa, controlam e coordenam, através das regras e dos sistemas de financiamento, a execução das políticas nesse domínio. (Barroso, 2005a, p.68).
 A regulação nacional ou institucional define-se como “o modo como as autoridades públicas (…) exercem a coordenação, o controlo e a influência sobre o sistema educativo, orientando através de normas, injunções e constrangimentos o contexto da acção dos diferentes atores sociais e seus resultados” (idem, p.69). Em resultado da sobreposição de diferentes lógicas, discursos e praticas, na definição e acção políticas, esta assume, cada vez mais por um carácter hibrido, mestiço, que se manifesta a dois níveis: “nas relações entre países; (…) na utilização no mesmo país, de modos de regulação procedentes de ´modelos` distintos, em particular no que se refere à oposição ´regulação pelo Estado`, ´regulação pelo mercado`”(Barroso, 2005a, p.69-70).
A micro-regulação local, segundo Barroso (2005a), “remete para um complexo jogo de estratégias, negociações e acções, de vários atores, pelo qual as normas, injunções e constrangimentos da regulação nacional são (re) ajustados localmente, muitas vezes de modo não intencional. (…) Pode ser definida como o processo de coordenação da acção dos atores no terreno que resulta do confronto, interacção, negociação ou compromisso de diferentes interesses, lógicas, racionalidades e estratégias em presença quer, numa perspectiva vertical, entre ´administradores` e ´administrados`, quer numa perspectiva horizontal, entre os diferentes ocupantes dum mesmo espaço de interdependência (intra e inter organizacional) – escolas, territórios educativos, municípios, etc. (Barroso, 2005a, pp.70-71).
Desta forma, são cada vez mais evidentes, em qualquer sistema educativo, “três grandes tendências no domínio da regulação: aumento da regulação transnacional; hibridismo da regulação nacional; fragmentação da regulação local (intermediária, inter e intra escola) (Barroso, 2005a, p.67).

3.2- Em relação às modalidades utilizadas
Em função das modalidades utilizadas, os sistemas educativos têm sido sido objeto de uma “regulação burocrática, pelo mercado, comunitária, etc.” (Barroso, 2005a, p.67).
Em Portugal, durante a maior parte do século XX (até aos anos 80), assistiu-se “ ao predomínio de uma ´regulação burocrático- profissional`. Na última década do século passado, desenvolveu-se uma forma emergente de ´regulação pelo mercado`, com manifestações esporádicas e muito particularizadas de formas de ´regulação comunitária` (idem, pp.73-74).
No sistema educativo português, depois da regulação inicial, profundamente centralizada, do final do século XIX, com a Administração Central a chamar a si a definição das políticas educativas e o funcionamento de todo o sistema, “evoluiu-se para uma situação de conflito (…) entre professores e Estado. (…) A história da escola foi marcada (ao longo do século XX) por uma tensão permanente entre uma `racionalidade administrativa` e uma ´racionalidade pedagógica` que configuram dois modos distintos de regulação: (i) uma regulação estatal de tipo burocrático e administrativo, em que a escola é vista como um ´serviço do estado´, sujeita a uma rede complexa de normativos que reforçam a intervenção da administração central direta (…) ou mediatizada através do director da escola, cuja função essencial é fiscalizar o cumprimento das normas e regulamentos; (ii) uma regulação corporativa de tipo profissional e pedagógico, em que a escola é vista como ´uma organização profissional` com uma gestão de tipo colegial, gozando de uma relativa autonomia pedagógica e financeira, e onde o director exerce as suas funções mais como líder pedagógico do que como um administrador – delegado do poder central” (Barroso, 2005a, p.74)
“A influência das famílias (…) faz-se (…) através dos processos de escolha da escola e da sua participação na gestão. (…) Esse ´direito de escolha` pode exercer-se na opção entre ensino publico e privado, ou, (..)através da opção entre diferentes escolas públicas, possibilitada pelo fim (…) da ´sectorização` da rede escolar em função da residência dos alunos. (…) Em Portugal, esta influência dos pais na educação escolar dos filhos sempre foi reduzida (…). No caso das escolas públicas, só a partir da década de 70 se dão alguns avanços tímidos e mais tarde, em meados da década de 80,  (através) da consagração do seu direito de participação na gestão escolar que, na prática, ficou muito longe de ser concretizado” (Barroso, 2005a, p.75). Esta aliança entre o Estado e as famílias tem expressão  significativa em países que “levaram mais longe esta ´lógica de mercado` contra a influência dos professores” (Barroso, 2005a, p.76), como são exemplos alguns países da Europa Ocidental (Bélgica, Reino Unido…).
“A regulação local da escola através da aliança entre professores e pais dos alunos constitui, hoje em dia, um dos leitmotiv das medidas de ´abertura da escola à comunidade` ou da criação de ´territórios educativos de intervenção prioritária`. (idem, 76) (…) O comunitarismo é apresentado como a resposta aos problemas criados pelos falhanços da velha esquerda (estatal) e da nova direita (defensora do mercado) através da promessa de uma ´terceira via`. (Clarke e Newman, 1997, p. 131, citados por Barroso, 2005a, p.78).
“A emergência do comunitarismo nos processos de regulação social (…) permite introduzir uma perspectiva diferente na abordagem organizacional dos problemas que caracterizam a ´crise` actual da escola (e) que (..) têm que ver com a exclusão escolar e social e com o ´sentido` que a escola tem para os que a frequentam e nela trabalham. Duas ordens de razões podem justificar esta abordagem: a primeira (…) reside no facto de se tornar cada vez mais evidente que os grandes problemas da escola estão relacionados quer com a perda do sentimento de pertença (dimensão comunidade) dos seus membros (alunos e professores), quer com o não reconhecimento da existência de objectivos e interesses comuns por parte dos seus participantes (dimensão societal). A segunda (…) está relacionada como facto de, apesar de a escola (…) não poder ser considerada uma associação (…) ter sido obrigada, pela força das necessidades e circunstâncias da sua evolução histórica e social, (…) a desenvolver outras funções (…) como a prestação voluntária (…) de bens, serviços, ajuda e apoio. (…) O reconhecimento desta multifuncionalidade da escola, permite diversificar as formas organizativas, os modos de regulação, os processos de adesão, (…) beneficiando, para o exercício de algumas dessas actividades e para a sua organização em geral, do contributo da gestão associativa (Barroso, 2005a, pp. 81-82).
É no contexto sócio comunitário que se justifica encontrar formas de regulação institucional que sejam compatíveis com a dinâmica dos processos sociais de regulação. Isso obriga a um novo equilíbrio entre o Estado – os professores – e os pais dos alunos na administração da educação e em particular na regulação local da escola pública. Este tipo de regulação – sociocomunitária - tem de passar pela alteração de papeis destes três pólos de regulação das políticas e da administração pública da educação e por uma revitalização do poder local. (idem, 82).
“No que se refere à regulação local da escola pública isso significa que a escola pode ser vista como um lugar social, (…) (onde) os professores, os alunos e outros membros constroem a sua identidade (…) pela pertença ao grupo a que estão unidos, por laços de solidariedade, resultantes da partilha de um bem comum”. (Barroso, 2005a, p.82).


B  _ Quadros teóricos interpretativos de governação dos sistemas educativos
 
“Os sistemas educativos são os principais meios a que as sociedades recorrem para procurar definir, replicar e assegurar a sua singularidade nacional, para reforçar as economias nacionais e responder aos problemas sociais e para influenciar a distribuição de oportunidades individuais” (Dale, 2008, p.17).
Os sistemas educativos alicerçam-se, na sua construção, em quatro componentes que se consubstanciam, por um lado, nas ligações da educação com a modernidade e, por outro, nas ligações da educação com o capitalismo. A modernidade, os problemas do capitalismo, a “gramática” da escola e a relação da educação com cada sociedade nacional combinam-se, de modos diferentes e mutáveis para dar forma à arquitectura em que assenta a ´educação` das sociedades contemporâneas (Dale, 2008, p.16). A modernidade na educação apresenta ligação directa ao capitalismo. Segundo Dale (2008, p.16, reportando-se a Dale, 1989) “a chave – mestra da compreensão dos sistemas educativos reside no reconhecimento da sua relação com os problemas fundamentais do capitalismo, que este não pode por si só estabelecer, mas que precisa de uma instituição como o Estado para o fazer”. A insustentabilidade deste paradigma económico legitima as mudanças dos “regimes educacionais considerados pouco favoráveis” (idem, p.17). As formas de organização da educação em que assentam os sistemas educativos tornaram-se, na modernidade, restritivas, limitadas e desactualizadas no espaço e no tempo e a sociedade moderna, da Informação e do Conhecimento, tem cada vez mais dificuldade em rever-se nelas.
No espaço da União Europeia, desde a Agenda de Lisboa (março de 2000),  que a Comissão e o  Conselho, se empenham no sentido de fazer da Europa um reconhecido espaço mundial de conhecimento, de modo a garantir um crescimento económico sustentável com mais e melhores empregos e maior coesão social para, deste modo, fazer face à globalização. Os alicerces desta pretensão colocam-se na Educação e, consequentemente, nos sistemas educativos de cada um dos seus países membros e na Formação, inicial e ao longo da vida, dos seus cidadãos. Porém, o tempo tem vindo a demonstrar que “os sistemas educativos (…) (são) deficitários em termos do contributo que podem dar às agendas da Competitividade e da Economia do Conhecimento (…) ( porque que se encontram) por um lado, condicionados  e destinados a servir matérias e interesses muito  mais amplos  do que os exigidos por Lisboa e, por outro, (porque) se revelam incapazes de prosseguir os seus objectivos (…) (carecendo) não apenas de reforma, mas de transformação, tanto quanto aos fins como quanto aos meios” (Dale, 2008, p.19).  
“As exigências que recaem sobre os sistemas educativos têm sido múltiplas e eles tentam incorporá-las de várias formas, com prioridades diferentes e diferentes graus de sucesso” (Dale, 2008, p.18). Porém, há uma grande dificuldade não só em  encontrar um conceção comum sobre o conteúdo adequado da Educação  na modernidade,  como também em aferir sobre quais são os  factores capazes de  melhor definirem a (boa) regulação dos sistemas educativos.
 Enquanto modo de coordenação dos sistemas educativos a regulação “é um processo constitutivo de qualquer sistema e tem por principal função assegurar o equilíbrio, a coerência, mas também a transformação desse mesmo sistema. (…) Compreende, não só, a produção de regras que orientam o funcionamento do sistema, mas também o (re) ajustamento da diversidade de acções dos atores em função dessas mesmas regras”. (Barroso, 2005b, p.733).
“É através dos seus órgãos reguladores que o sistema identifica as perturbações, analisa e trata as informações relativas a um determinado estado de desequilíbrio e transmite um conjunto de ordens a um ou vários dos seus órgãos executores, por forma a assegurar a sua estabilidade e o seu desenvolvimento coerente (BARROSO, 2001). Estabilidade e equilíbrio que é reposto tendo por base o princípio de retroacção, ´em que os órgãos activos vão exercer uma série de acções em retorno sobre as causas de perturbação a fim de estabelecer o equilíbrio no sistema`” (DIEBOLT, 2001, p. 6, citado por Almeida, 2005, p.3).
A utilização do termo “regulação” nos estudos internacionais sobre políticas educativas varia conforme os contextos linguístico e administrativo dominantes. No contexto linguístico o termo “regulação” aparece sobretudo ligado ao debate sobre a reforma da administração Estatal na educação e sobre a necessidade da sua modernização. Sobretudo dos países onde ainda predomina uma administração centralizada e burocratizada, a referência à “regulação” prende-se com a necessidade de reforçar a imagem de um Estado menos prescritivo e regulador e de uma “nova administração pública” que substitui o controlo direto e a priori sobre os processos, por um controlo remoto, e a posteriori baseado nos resultados. No contexto administrativo a ocorrência do termo “regulação” aparece associada, por oposição, ao conceito de “desregulação”, pretendendo sublinhar uma ruptura com os modelos “tradicionais” de intervenção do Estado, que ocorre em países onde se verificam mudanças politicas conservadoras e neoliberais, onde se pretende a substituição parcial da regulação central, pela regulação de iniciativa privada através da criação de quase-mercados educacionais, almejando-se a  substituição de um governo  que apostava na produção direta de bens e serviços, por um governo visando preferencialmente a regulação da produção e distribuição desses bens e serviços, fornecidos, em competição, por outras entidades (Barroso, 2005b, pp:731-733).
“O modelo de Estado-providência e todas as suas lógicas – políticas, culturais, económicas, entram, assim, em ruptura e é neste cenário de crise que se cria um campo propício à emergência de uma doutrina neoliberal, que questiona o Estado-Providência e cujo grande objectivo consiste em reduzir o mais possível o campo de actuação do Estado. (Almeida, 2005, p.11). A influência dos movimentos liberais está patente nas várias reformas estruturais que, nos últimos anos, com dimensões e amplitudes diferentes, caracterizam muitos sistemas educativos, tendo como principal objectivo a da redução da “intervenção do Estado na provisão e administração do serviço educativo, quer por meio de retóricas discursivas de crítica ao serviço público estatal, (quer através do) ´encorajamento do mercado`. Este (…), traduz-se, sobretudo, na subordinação das políticas de educação a uma lógica estritamente económica; na importação de valores (competição, concorrência, excelência etc.) e modelos de gestão empresarial, como referentes para a ´modernização` do serviço público de educação; na promoção de medidas tendentes à sua privatização” (Barroso, 2005b, p.741).
Como postulam Dutercq e Van Zanten (2002), citados por Almeida (2005), “no domínio da educação como noutros domínios da acção pública, os antigos equilíbrios foram destabilizados por um duplo movimento: um movimento de globalização, que limita a capacidade de acção e de reflexão dos Estados-Nação e um movimento de localização, que leva a ter em conta as dinâmicas que se operam na base e a harmonizá-las” (Almeida, 2005, p.19).
“A regulação do sistema educativo não é um processo único, automático e previsível, mas sim um processo compósito que resulta mais da regulação das regulações do que do controlo direto da aplicação de uma regra sobre a acção dos ´regulados`” (Barroso, 2005b, pp.733-734). “Não nos situamos mais num mundo onde as decisões são exclusivamente tomadas pelo alto para serem aplicadas pela base”. (Duertcq, 2006, p.4).
As reformas operadas, ao longo das décadas de 80 e 90, em diferentes países da Europa revelam que há uma tendência dominante para o “reforço de novos modos de controlo e de responsabilização das escolas” (Afonso, 2003, p. 49, citado por Almeida, 2005) que passa, nomeadamente pela substituição de um ‘controlo pelas normas’ por um ‘controlo pelos resultados’, através de uma participação local e da autonomia das escolas e a criação de diferentes dispositivos de avaliação. (Almeida, 2005, p. 19).
 “A participação social e o reconhecimento dos actores educativos e sociais são elementos estruturantes na racionalidade do novo modelo de regulação administrativa” (Ramos. n.d., p.17). No nosso país, “a natureza da regulação educativa (..) funciona em parte com uma lógica duradoura e consistente de regulação burocrática e contrariamente evidencia, de igual modo, a emergência de uma regulação social, em resultado da participação de actores” (Ramos, n.d.; p:61). 
“Se entendermos a ´regulação do sistema educativo` como um ´sistema de regulações` torna-se necessário valorizar, no funcionamento desse sistema, o papel fundamental das instâncias (indivíduos, estruturas formais ou informais) de mediação, tradução, passagem dos vários fluxos reguladores, uma vez que é aí que se faz a síntese ou se superam os conflitos entre as várias regulações existentes. Estas instâncias funcionam como uma espécie de ´nós em rede` de diferentes reguladores e a sua intervenção é decisiva para a configuração da estrutura e dinâmica do sistema de regulação e seus resultados” (Barroso, 2005a, p.85).
“A diversidade de fontes e modos de regulação faz com que a coordenação, equilíbrio ou transformação do funcionamento do sistema educativo resultem mais da interacção dos vários dispositivos reguladores do que da aplicação linear de normas, regras e orientações oriundas do poder político. (…) Mais do que falar em regulação seria melhor falar em  ´multi- regulação`, já que as acções que garantem o funcionamento do sistema educativo são determinadas por um feixe de dispositivos reguladores que muitas vezes se anulam entre si, ou pelo menos relativizam a relação causal entre princípios, objectivos, processos e resultados. Os ajustamentos e reajustamentos a que estes processos de regulação dão lugar não resultam de qualquer imperativo definido a priori, mas sim dos interesses, estratégias e logicas de acção de diferentes grupos de atores, por meio de processos de confrontação, negociação e recomposição de objectivos e poderes.” (Barroso, 2005b, p.734)
Independentemente da alteração das formas de regulação e da variação do peso relativo dos vários níveis e atores, qualquer mudança no sistema educativo não pode ser vista independentemente de um projecto político nacional que tem de passar pela promoção e defesa dos princípios fundadores da escola pública: universalidade do acesso; igualdade de oportunidades e continuidade dos percursos escolares. “ Estes princípios obrigam a que a escola seja sábia para educar (permitindo a emancipação do saber), recta para integrar as crianças e os jovens na vida social (por meio da partilha de uma cultura comum) e justa (participando na função social de distribuição de competências)” (Barroso, 2005b, p.745). Isto porque “unificar os cidadãos no apoio à escola pública é ´uma necessidade crucial do nosso tempo`” (Tyack & Cuban, 1995, p.142, citados por Barroso, 2005b, p.747), e “o controle societal é a (melhor) garantia da eficácia da regulação” (Pierre Bauby, 1998, p.187, citado por Dutercq, 2006, p.5).
         
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