sábado, 7 de julho de 2012

Tema V - "AS LINHAS MESTRAS DA AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS EDUCATIVOS"



 A necessidade de avaliação da educação

Há um “consenso generalizado de que a Educação, pela qualidade do capital humano que forma, é um factor decisivo na economia de um país” (p.1) [10]. Nesta conformidade, os governos de muitos países, confrontados com resultados decepcionantes e com níveis de insucesso elevados e indesejáveis, relativos à numeracia e literacia das suas populações estudantis, constatados em programas de avaliação, de aplicação supranacional, têm evidenciado o seu interesse e a sua preocupação nos sistemas educativos, quer no que respeita à eficácia da escola, quer, nos últimos tempos, no que à qualidade da própria acção docente, se refere.
Torna-se tendência corrente a introdução de medidas de prestação de contas, exigidas às escolas públicas, de forma a assegurar que estas atinjam padrões de desempenho que garantam a qualidade máxima da educação, para desta forma, enfrentar a globalização. Este sistema de prestação de contas, orientado para objetivos e resultados, passa a ser implementado em muitos países da União Europeia que ainda não o haviam desenvolvido, “principalmente a partir do compromisso político comum assumido no Conselho Europeu de Lisboa, em 2000, de ´transformar a economia europeia na economia do conhecimento mais competitiva do mundo`” (ibidem, p.1).
 É deste modo que “a agenda política europeia elege como conceitos – chave, na preparação para os desafios da sociedade do conhecimento do século XXI, ´a eficácia educativa, o desenvolvimento profissional de professores e a cultura de avaliação do desempenho organizacional` ” (p.2) [10].
“A implantação do processo de avaliação das escolas constituiu uma das respostas das autoridades políticas e dos responsáveis pelos sistemas educativos no sentido da melhoria da eficiência e da eficácia na gestão dos recursos públicos atribuídos à educação”(p.38) [11].
O enfoque na preparação dos alunos, em termos de educação e de aprendizagens, tem sido, nos últimos tempos, uma questão fundamental para a Administração, diretamente assumida pela Inspeção Geral da Educação. Esta tem vindo a “eleger como questões centrais no seu programa de trabalho acompanhar o sucesso dos alunos e monitorizar e avaliar as condições que estão a ser criadas em cada escola para pôr o sucesso ao alcance de todas as crianças e jovens, independentemente das variáveis do seu contexto familiar” (p.216) [4].
A modernização dos sistemas educativos, passa a centrar-se no desempenho profissional dos professores e na eficácia do ensino. Sinais dessa modernização evidenciam-se: (i) na valorização crescente de uma cultura de desempenho e de medição comparativa da eficácia do corpo docente; (ii) no aumento, cada vez mais significativo, dos mecanismos de prestação de contas aos parceiros de cada comunidade educativa; (iii) na necessidade de auto-avaliação da escola e no consequente desenvolvimento de uma cultura de auto-aprendizagem, direccionada para a melhoria dos seus níveis de eficiência e de eficácia; (iv) na importância da formação contínua dos docentes e do seu desenvolvimento profissional; (v) na preocupação com o sucesso escolar de todos os alunos, independentemente da sua origem social (p.2) [10].

  Sentidos e modalidades de avaliação da Educação

 “A avaliação da educação deve ser entendida em sentido amplo. Não visa, unicamente, a oferta formativa e os métodos de ensino mas também os financiamentos, gestão, orientação geral e a prossecução de objectivos a longo prazo. Remete a noções como o direito à educação, equidade, eficiência, qualidade (e) aplicação global de recursos (…) (sendo necessário) desencadear um dispositivo de avaliação objectivo e público de modo a apreender a situação do sistema educativo, assim como o seu impacto no resto da sociedade” (pp. 170- 171) [6].
 A tendência crescente de descentralização, por parte dos sistemas educativos europeus tradicionalmente centralizados, e a consequente conceção de margens, sempre maiores, de autonomia, às organizações escolares permitiu o surgimento de um “paradigma de governança em todos os níveis de decisão política” (p.40) [13]. Jessop (2003, p. 1), citado por Simões (p.40) [13], define governança como a “arte complexa de conduzir múltiplas agências, instituições e sistemas, que são simultaneamente autónomos uns dos outros e estruturalmente agregados através de diversas formas de interdependência”. Esta governança, segundo Hooghe & Marks (2001), citados por Rufino (p.32) [12], “encontra (se) associada genericamente à dispersão das hierarquias e das instâncias de decisão sobre terrenos sociais muito abrangentes, acarretando como consequência uma perda de influência da autoridade central do Estado e de afastamento das lideranças políticas”, exigindo que “´os parceiros sociais se comprometam com uma auto-regulação da conduta, em nome de um projecto social`, funcionando o Estado como um parceiro entre outros, legitimando-se na sua capacidade de ´persuasão moral` e de ´mediação da inteligência colectiva`” (Jessop, 2003, pp. 12-13, apud Simões, 2007, p.40) [13].
“Associar os diferentes atores sociais à tomada de decisões constitui (…) o meio essencial de aperfeiçoamento dos sistemas educativos” (p.172) [6]. É neste lema que se constata “uma maior ênfase conferida à autonomia da escola, fenómeno que se encontra associado à importância que se atribui à criação de uma cultura de avaliação em todos os aspectos do sistema educativo” (p.10) [7].
É importante “uma ampla descentralização dos sistemas educativos, apoiada na autonomia das escolas e na participação efectiva dos agentes locais. (…) A autonomia dos estabelecimentos de ensino reveste-se de diferentes aspectos. (…) De uma maneira geral convém desenvolver, em cada estabelecimento de ensino, processos que definam o papel dos diferentes atores, favorecendo a cooperação entre professores, direcção e pais, assim como o diálogo com o conjunto da comunidade local. A prática da negociação e da conciliação na gestão de estabelecimentos de ensino e na vida escolar constitui (…) um factor de aprendizagem democrática”(p.173) [6]. Segundo Barroso (2005), “é pelo reforço da sua identidade e da sua autonomia que as escolas podem identificar-se com um determinado território educativo e associarem-se a outras escolas para a resolução de problemas comuns” (p.139) [3].
São exemplos desta “territorialização” das políticas educativas a criação de redes, formais ou informais, entre escolas, visando: (i) “a emergência de territórios (…) que dão sentido à relação das escolas com o espaço local”; (ii) “a coerência de um sistema educativo local, assegurando a continuidade entre diferentes níveis e estabelecimentos de ensino”; (iii) “a complementaridade dos recursos educativos através da cooperação entre as escolas, em diferentes domínios, nomeadamente, da gestão” (ibidem, p.139).
 “Avaliar uma escola não é uma questão de medir variáveis, de uma maneira ou de outra. É antes uma questão de saber até que ponto ´as pessoas` são centrais no programa de acção de cada escola. Tal significa saber em que medida os alunos, e as suas necessidades de aprendizagem vêm em primeiro lugar nas prioridades da escola e dos seus agentes, e em que medida a escola é um centro de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal e profissional, para crianças, jovens e adultos” (p.216) [4].
Na sua abrangência, a avaliação das escolas tem por objetivo “dar voz a todos, como forma de recordar que todos devem ter voz, (…) (consubstanciando-se na) audição de diversos membros da comunidade educativa e dos parceiros da escola. Constituindo uma forma efectiva de recolha de informação pertinente (…), visa também reconhecer a importância da participação dos actores locais na vida da escola: pais, autarcas, empresas, associações culturais e outros estabelecimentos de educação e ensino”(p.12) [7].  
A avaliação das organizações escolares estrutura-se em duas modalidades: a avaliação externa e a avaliação interna ou auto-avaliação. Em conjunto, avaliação externa e auto-avaliação têm sido apresentadas como duas vertentes de uma mesma estratégia de pressão às escolas, no sentido de ser prestada uma maior atenção às questões das aprendizagens e reduzir o nível de desperdício e de ineficiência do sistema educativo; questionar o rigor e a adequação da preparação e formação inicial e contínua dos professores e criar condições para rever a sua organização e funcionamento. (p.190) [4].
 A avaliação externa e a auto – avaliação são, assim, duas abordagens que se complementam na promoção da eficácia das organizações escolares, visando a maximização das aprendizagens dos seus alunos numa “relação estrita e complementar (…) enquanto processo contínuo que envolve os actores (…) nas acções de melhoria das escolas” (p.6) [9]. A auto-avaliação das escolas, que emerge “nas políticas educativas no quadro de novos referenciais e de novos instrumentos de governança, associada a conceitos como eficácia, eficiência e qualidade” (p.39) [13], complementada pela avaliação externa e pelos espaços de autonomia de que goza cada organização escolar, “é um instrumento de desenvolvimento das escolas enquanto instituições com um projecto próprio e mobilizador dos seus recursos e das suas competências” (p. 60) [9]. Esta modalidade de avaliação combina fontes e processos variados de recolha de informação e cruza fontes e olhares diversos, de modo a alcançar uma compreensão mais profunda das escolas e das “dificuldades que enfrentam para prestar um serviço educativo de melhor qualidade e de maior equidade” (ibidem, p.12).
 Roullier (2004), citado por Alves & Teixeira (2011) afirma que “dar relevo às práticas da auto-avaliação de escola é abrir uma porta ao desenvolvimento da profissionalização do seu corpo docente, enquanto ator colectivo ao serviço do sucesso dos alunos e da melhoria da qualidade da escola” (p.155) [2].
 Conforme já afirmado, enquanto instrumento de regulação pública, a auto-avaliação “é tida como a expressão de referenciais de conhecimento que induzem novas modalidades de governança” (p.32) [12].Torna-se, assim, importante “a produção de conhecimento situado, não num sentido instrumental e pragmático, para dizer às escolas como fazer, mas num sentido compreensivo, levantando pontas de questionamento que aumentem a ´reflexividade critica dos actores` e reforcem a componente cognitiva dos processos de auto - avaliação e regulação.” (Martuccelli, 2002, p. 28, citado por Simões, p.41) [13].
Atendendo a que “sem referências, a auto-avaliação pode ser produzida como uma estratégia débil e pouco exigente” (p. 221) [4], na sua avaliação interna a escola não pode dispensar a existência de informação de referência, de diferente natureza, que deve utilizar comparativamente na formulação de juízos, na intenção de compreender até que ponto é semelhante ou diferente das restantes organizações escolares. Nesta aceção, é cada vez mais pertinente a avaliação comparada ou benchmarking.
O benchmarking, que etimologicamente, significa “marcar o lugar” (p.230) [4] é habitualmente utilizado como “comparação referenciada a padrões de desempenho, ou a desempenhos melhores na mesma categoria, isto é, de sujeitos ou organizações com as mesmas características ou nas mesmas condições, mas cujo desempenho é melhor, globalmente ou em aspectos chave” (Ibidem, p, 230). Macbeath e McGlynn (2002), citados por Clímaco (2005) definem benchmarking como “o processo de medir e comparar padrões de um determinado desempenho com os alcançados por outros, identificar melhores práticas e desencadear os passos necessários para melhorar ou progredir”. O benchmarking pode referir-se a “dados de desempenho, práticas, comportamentos, atitudes ou percepções (…) (e) tem implícito um conjunto de procedimentos de aferição ou de comparação de processos e de resultados, que passam pela identificação de referentes para essa comparação, e pela marcação de metas de progresso” (p. 230) [4].
Segundo Clímaco (2005) a “comparação referenciada” ou “benchmarking” é uma técnica muito usada nas organizações que se orientam para o desempenho, na medida em que a aferição contribui: para concentrar a atenção e as energias nos conteúdos e no desempenho do trabalho, desencadeando processos de aprendizagem; para combinar o conteúdo do trabalho com modelos de formação tradicionais e com o desenvolvimento de lideranças indispensáveis e para introduzir mudanças culturais significativas nas organizações” (p.233) [4].
MacBeath e McGlynn (2002), citados por Clímaco (idem), consideram mesmo que ao formalizar o benchmarking, através do Método Aberto de Coordenação (em março de 2000, na Cimeira de Lisboa) “os governos tornaram mais exigentes os desafios que se colocam às escolas e fizeram da prestação de contas um processo mais transparente” (p.235) [4].
Cada organização escolar, ao incluir no produto da sua avaliação a “comparação referenciada ou ´benchmarking`, abre caminho a um novo ciclo de gestão e de auto - avaliação, que pode viver, durante um certo período, da acumulação dos ´bens de conhecimento` e da ´cultura de exigência`, ou de qualidade, adquiridos. São estes dois elementos que irão fazer progredir o desempenho global e fazer sentir a necessidade de encontrar novos parceiros, numa outra categoria de desempenho, para um novo processo de ´benchmarking`” (p.243) [4].
Por sua vez, o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, a partir da prática da auto-avaliação, deve prever “diferentes modalidades de retorno de informação (feedback) que realimente as motivações e o empenho dos empreendedores. A meta-avaliação constitui uma poderosa modalidade de produzir informação de retorno (…) porque vai ´pôr à prova` o nível de maturidade e de conscientização da cultura de avaliação existente na escola e pondo-a à prova reforça-a, porque reforça a autonomia da escola e a maturidade profissional da sua comunidade educativa” (p.229) [4].
Porém, para que a meta-avaliação seja uma realidade “é fundamental estabelecer o equilíbrio entre a avaliação interna e a avaliação externa, o que depende do tipo de instituição que é responsável pela avaliação externa, do modo como a escola aderiu à auto-avaliação e dos instrumentos de trabalho que utiliza. Quando as escolas são induzidas a utilizar os instrumentos de trabalho usados na avaliação externa como apoio à sua auto-avaliação e os seguem em exclusivo, as suas motivações, muitas vezes, são mais de conformidade do que de conceber e pôr em prática um programa e uma estratégia de desenvolvimento interno. Quanto mais obrigatória se torna a auto-avaliação e quanto maior for a exposição pública das escolas, mais o processo se converte numa prestação de contas, mais ritualizada e burocratizada se torna e mais se reduz o seu potencial como estratégia de desenvolvimento institucional e profissional e o empenho dos que se lançaram nesse empreendimento. Haverá sempre algumas mudanças, mas tendem a ser superficiais e de curta duração” (p.229) [4].
 Em síntese, “a avaliação deve consubstanciar dois objectivos: por um lado, deve construir-se na negociação com os actores socioeconómicos e com os interesses constituídos e, por outro, deve prestar contas” (p.39) [11]. É desta forma que a avaliação das instituições escolares, nas suas diversas modalidades, tem vindo a ser cada vez mais utilizada “como condição sine qua non para o desenvolvimento de processos de prestação de contas e de responsabilização (accountability). Ou seja, a prestação de contas, como ato de justificação e explicação do que é feito, como é feito e porquê é feito, implica (…) que se desenvolva alguma forma de processo ou de avaliação ou auto-avaliação” (p.84) [1].

Políticas e quadros de referência na avaliação das escolas e dos docentes

“O crescente protagonismo da avaliação nas políticas educativas contemporâneas não confere à avaliação educacional apenas uma dimensão política (…) mais do que isso (…) remete (…) para a sua natureza política” (p.72) [8]. É nesta conformidade, que uma das funções principais da avaliação é também política. A avaliação de um programa leva à tomada de decisão sobre a adoção ou continuação de um determinado plano de acção. Assim, torna-se relevante a função de recolha de informações e a comunicação dessa recolha àqueles que têm de tomar decisões. Desta forma, os dados da avaliação devem ser constituídos por informações claras, exatas, válidas e amplas, de modo a que quem decide fique com um conhecimento completo da realidade (p.16) [5].
 O processo de desenvolvimento de qualquer avaliação deve ancorar-se num conjunto de elementos que sirvam de referência ao seu desencadeamento, ou seja, deve estruturar-se em referenciais com os quais o objecto da avaliação vai ser relacionado e que variam, necessariamente, em função do objecto a ser avaliado. “O conceito de referencial (…) designa os quadros de representação e de inteligibilidade do mundo que sustentarão as políticas públicas e explicarão as suas mudanças. (…) O referencial global, ou referenciais globais, deverão pois influir não apenas no modo de perceber e viver a avaliação pelos atores, mas também na própria referencializacão de dispositivos e instrumentos” (p.41) [13]. Segundo Figari (1996), citado por Graça et al. (2011), “a referencialização surge enquanto método de delimitação de um conjunto de referentes que garanta que a avaliação é uma construção na qual os próprios atores se envolvem e contribuem” (p.26) [5]. Só desta forma “os referenciais de avaliação e os instrumentos adotados representam (…) informação estratégica para os atores escolares, tal como (…) os resultados produzidos e as suas eventuais consequências” (p.73) [8].
Enquanto complexo de práticas sociais e escolares, para ser concretizada, a avaliação não depende apenas de decisões politicas mas também e, sobretudo, da “referência a contextos organizacionais concretos e a aparelhos mais ou menos complexos de administração”(p.72) [8].
Lise Demailly (1998), citada por Simões [13], aponta “quatro lógicas presentes na avaliação de escolas: a lógica persistente dos meios; a lógica do modernismo organizacional com uma centralidade forte e os professores como quadros; a lógica propriamente neoliberal e do mercado escolar; a lógica do projecto crítico e democratizante, contra o insucesso, pelo trabalho de equipa intra e inter-profissional, com regulação política central e regulações locais (p. 42) [13].
Pressupõe-se, então, que de um ponto de vista estratégico, o encontro de lógicas distintas num contexto organizacional regula e amplia a racionalidade da acção e, consequentemente, o seu grau de satisfatoriedade. (p.42) [13]. A tendência crescente de desenvolvimento de políticas orientadas para a performance competitiva, tem conduzido a uma revalorização da racionalidade técnico-instrumental com a emergência de fenómenos simultâneos de crítica à burocracia pública estatal e de defesa de modelos pós- burocráticos, originando políticas avaliativas complexas e, por vezes, híbridas (p.72) [8]. Este “conhecimento focado na performance das escolas não se exerce no plano exclusivamente ´técnico`: a sua difusão transporta também um potencial regulador que propõe aos actores modos de regulação alternativos que substituam a compulsão pela persuasão e surjam associados a uma ideia de qualidade e boas práticas na prestação de um serviço público” (p.33) [12]. É um regime que, como observa Barroso (2005) citado por Rufino (ibidem, p.33), trata de substituir um controlo directo e apriorístico sobre os processos, por um controlo remoto e, a posteriori, incidente sobre os resultados.
Deste modo, têm sido desenvolvidos “instrumentos de avaliação de escolas, professores, manuais escolares e currículos, visando melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem segundo critérios de elevada exigência e rigor” (p. 10) [7]. As novas formas de regulação e de integração dos sistemas públicos tornam-se aplicações instrumentais de processos de conhecimento que passam por referenciais de comparação e lógicas de eficiência que influenciam a decisão politica (Ozga, 2006, citado por Rufino, p.32) [12].
É convicção crescente e, socialmente, cada vez mais generalizada, que uma das variáveis mais importantes na determinação do sucesso dos alunos, é atribuída ao professor e à qualidade das suas práticas. Professores empenhados, comprometidos com a aprendizagem dos seus alunos mostram, de facto, resultados muito mais amplos e eficazes do que aqueles que se limitam a exercer papéis de agentes de ensino. Desta constatação emerge “uma atenção renovada pelas estratégias de avaliação de professores e (…) uma reorientação política quanto às grandes finalidades e objectivos gerais da avaliação. Estes, devem passar pela sua responsabilização e prestação de contas, por um lado e pelo desenvolvimento profissional, por outro. O objectivo da prestação de contas tem a ver com o dever social de o professor informar a comunidade local e nacional dos resultados do seu trabalho. O objectivo de ´apoio ao desenvolvimento profissional` reflecte a necessidade de o professor promover o seu desenvolvimento pessoal e profissional para melhorar permanentemente, e ao longo da vida, os seus conhecimentos, capacidades, atitudes e valores e a qualidade do seu trabalho” (pp.2-3) [10].Na percepção de Ramos (n.d) “a preocupação maior, a grande finalidade da avaliação, é obter a melhoria dos resultados dos alunos e a eficácia da acção docente” (p.4) [10].
Neste pressuposto, tem todo o cabimento a ênfase que vem sendo dada à “avaliação formativa, de regulação e de acompanhamento, cujos resultados darão lugar (…) a programas de formação contínua e ao recurso de variadas estratégias e metodologias, cuja frequência e utilização ajudará os professores a refletir sobre os princípios, os valores e as conçeções que, por um lado, lhes são anteriores, exteriores e até mesmo superiores, mas que, por outro, evoluem e se alteram face aos riscos da democracia” (pp 5-6) [5].
 “A mudança de perspectiva que emerge neste processo contínuo de balanço entre os dois pólos – a responsabilização e prestação e contas e o desenvolvimento profissional – como traço significativo quanto à avaliação de professores está igualmente associada ao facto de se considerar que a melhoria do ensino e das aprendizagens deve observar-se em comparações referenciadas (benchmarking), colocando a ênfase nos resultados obtidos, em particular nas formações estruturantes”. (pp. 3-4) [10].

A avaliação das escolas em Portugal

Apesar de contemplada na Lei 46/86 de 14 de Outubro (LBSE), no seu artigo 49º, ponto 1, que afirma que o sistema educativo deve ser objecto de avaliação continuada, só no final de 2002 foi publicada a lei que aprova e define o sistema de avaliação da educação e do ensino não superior concretizando, desta forma, o previsto na Lei de Bases do Sistema Educativo.
A primeira experiência de avaliação, em Portugal, decorreu entre 1997/1998 e 2001/2002, quando a Inspeção Geral da Educação desenvolveu um programa de avaliação externa das escolas – a avaliação integrada – que compreendeu a conceção de um modelo de avaliação externa a ser replicado ou adaptado pelas escolas na sua auto avaliação, a elaboração de roteiros de observação do desempenho para todos os níveis e ciclos de educação e de ensino, o desenho de uma metodologia de intervenção distinta da cultura introspectiva tradicional e a formação dos inspectores (p.217) [4]. No final de 2002, a Lei nº 31/2002, de 20 de dezembro, finalmente normativizou o sistema de avaliação dos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário e definiu as orientações gerais para a auto-avaliação e a avaliação externa.
 Devidamente regulamentada, a avaliação externa das organizações escolares portuguesas arrancou, no ano escolar de 2005/2006, em projecto-piloto constituído por 24 escolas, realizada pelo então criado Grupo de Trabalho para a Avaliação das Escolas.
 Na visão da Inspeção Geral da Educação, “a escola é o primeiro destinatário e a unidade central de análise, pois a avaliação externa pretende, antes de mais, constituir-se como um instrumento útil para a melhoria e o desenvolvimento de cada escola” (p.9) [9]. “Entendemos a Avaliação Externa das Escolas como um contributo pertinente para o desenvolvimento organizacional (…) e para a melhoria da qualidade das aprendizagens e dos resultados escolares dos alunos. Através de um melhor conhecimento de cada escola, em particular, e do serviço educativo, em geral, pretende-se incentivar práticas de auto-avaliação, promover uma ética profissional marcada pela responsabilidade, fomentar a participação social na vida escolar e contribuir para que as crianças e os jovens encontrem nas escolas espaços educativos que os sirvam cada vez melhor” (Ibid., p.5).
Entre as ambições da avaliação externa encontra-se a expectativa de fomentar, em cada escola intervencionada, a auto-avaliação e a oportunidade de melhoria, se os seus resultados forem usados como instrumento de reflexão e de debate. “Ao identificar pontos fortes e pontos fracos, bem como oportunidades e constrangimentos, a avaliação externa oferece elementos para a construção ou o aperfeiçoamento de planos de melhoria e de desenvolvimento de cada escola, em articulação com a Administração Educativa e com a comunidade em que se insere” (p.12) [9].
A autoavaliação das escolas públicas, prevista na lei desde dezembro de 2002 (Lei nº 31/2002), implementa-se, em muitas escolas, condicionada pela avaliação externa da responsabilidade da Inspeção Geral da Educação. Sendo que o principal objectivo da avaliação externa é a revalidação da autoavaliação, torna-se fundamental o equilíbrio entre as duas formas de avaliação, já que a avaliação externa vai corresponder a uma meta avaliação e concentrar-se na aferição dos níveis de rigor e de efetividade das políticas educativas de escola e dos seus mecanismos de controlo; nos processos de autoavaliação dos alunos e no progresso qualitativo da escola. Quando as escolas se limitam a adotar os instrumentos de avaliação disponibilizados pelos avaliadores externos para se auto avaliarem e não constroem os seus próprios instrumentos de avaliação as suas motivações são apenas de conformidade e como tal, insuficientes para construírem um programa de desenvolvimento endógeno e contextualizado que permita o crescimento da organização escolar como comunidade aprendente. Nesta situação, “haverá sempre algumas mudanças, mas tendem a ser superficiais e de curta duração” (p.229) [4]. Segundo Lima, (2011) “esta filosofia avaliativa, mais orientada para a confirmação ou a infirmação do que para a descoberta, (…) mais contábil ou calculativa do que heurística e interpretativa, tende a conferir menor protagonismo à avaliação dos processos e às dimensões programáticas e políticas, e maior centralidade à avaliação dos produtos ou resultados, à quantificação, à comparação e hierarquização. (…) Embora procure avaliar as organizações, os atores ou as práticas escolares, este tipo de avaliação transcende-os completamente, está para além deles e quase inteiramente fora do seu controlo” (pp. 75-76) [8].
É desta forma que, nos últimos tempos, o nosso sistema educativo parece querer caminhar para uma nova recentralização do controlo das politicas educativas que, já não podendo ser exercida à priori, por conta da autonomia das instituições, passa a ser realizada à posteriori, baseada apenas nos resultados nos alunos. Prova desta tendência recentralizadora é a adoção de medidas de accountability, como é exemplo a reintrodução dos Exames Nacionais, nos anos finais de ciclo do ensino básico e no ensino secundário, e a utilização dos seus resultados, por parte da sociedade civil, para a elaboração de rankings de instituições escolares. Tal tendência não só tem provocado a emergência e o fortalecimento de fenómenos de mercado e de quase-mercado, na Educação, como o enviesamento dos currículos que passam a ser trabalhados em função desses exames e o mal-estar crescente entre instituições educativas e entre os próprios docentes, obrigados a reconfigurar as suas funções quotidianas, por pressão das próprias instituições escolares.

Conclusão

Almejando a eficaz preparação da sociedade para os desafios da globalização e colocando a ênfase dessa preparação na educação dos cidadãos, os sistemas educativos dos diferentes países têm sido alvo de profundas transformações e as suas instituições públicas, particularmente focalizadas. “As políticas de avaliação, de prestação de contas e de responsabilização (accountability) foram ganhando (…) imunidade às concessões político – ideológicas dos governos, disseminando e homogeneizando muitos dos seus efeitos” (p.87) [1] pelo menos em muitos países da União Europeia, como é o caso de Portugal, onde a avaliação das escolas públicas é uma realidade desde o ano de 2006/2007.
Qualquer avaliação, para além de servir de fundamento a novas políticas educativas, tem um valor pedagógico, na medida em que “dá aos diferentes atores um conhecimento mais perfeito da sua atuação, difunde (…) a capacidade de inovação, dando a conhecer iniciativas coroadas de sucesso e as suas condições de realização. No fundo, leva a considerar a hierarquia e a compatibilidade das opções e dos meios, à luz dos resultados” (p.171) [5].
 A avaliação interna das instituições, hoje, uma realidade, afigura-se como uma importante forma de produção de conhecimento situado, permitindo a reflexão e a aprendizagem, em conjunto, por parte dos atores nela envolvidos. Como processo de construção de conhecimento, a auto-avaliação das organizações escolares permite a utilização dos dados dessa avaliação nos processos políticos que estas protagonizam, constituindo um manancial de argumentos para a negociação e para a acção. “A ´cultura de avaliação` pode assim ser entendida como um processo intrínseco de construção, e não como uma condição ou uma finalidade da avaliação” (p.45) [13].
Porém, se a avaliação visa o reconhecimento das diferenças, a partir das quais se constrói um sistema competitivo e hierarquizado, é indispensável garantir que os objetos em comparação são comparáveis, ou seja, que a comparação seja assumida e faça sentido para os intervenientes. A construção de um sistema de avaliação, exige sempre um mínimo de convergência sistémica e a integração das unidades a serem avaliadas para que, posteriormente, se possa passar da “convergência normativa para a divergência competitiva e diferenciadora. Convergir para divergir, ou integrar para diferenciar, são os processos que permitem construir um sistema competitivo e hierarquizado, introduzindo a rivalidade como elemento central, pois entende-se que ´competir para progredir` representa um princípio incontornável (…) também na educação” (pp.76-77) [8].
Em jeito de conclusão, qualquer “sistema de accountability democraticamente avançado inclui a avaliação, a prestação de contas e a responsabilização, mas dentro de articulações congruentes que se referenciem ou sustentem em valores essenciais como a justiça, a transparência, o direito à informação, a participação, a cidadania” (p. 86) [1].

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[13] Simões, G. (2007). “A Autoavaliação das escolas e a regulação da acção pública em educação. In: Sísifo. Revista de Ciências da Educação, nº4, pp.39-48. Recuperado em 11/06/2012 de http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=1165691

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