domingo, 29 de abril de 2012

TEMA II - " MODELOS E TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS NOS SISTEMAS EDUCATIVOS EUROPEUS"





 
        O paradigma de uma educação de massas, orientada por critérios economicistas e direcionada para a preparação para o trabalho nas fábricas, para a criação de riqueza e para o crescimento económico, que caracterizou a conjuntura do século XX, revela-se em completo desajuste, neste início do século XXI, envolto numa aura de desemprego, de queda do valor do trabalho, de crise do capital, de degradação das condições de vida da população e de completo colapso de muitas economias, à escala mundial mas e sobretudo, à escala europeia. Neste quadro socioeconómico e cultural “os caminhos do futuro são incógnitas, a imprevisibilidade é a regra, mas os objectivos a alcançar têm de ser claros” (Silva, 2010:10).
         Este início de séc. XXI, envolvo na sua conjuntura, nova, inesperada e singular, exige, à escola e ao sistema educativo, novos paradigmas que se direcionem para a necessidade de uma formação académica e profissional mais longa e constante, rompendo com o padrão enraizado de que há um tempo para formação (formação inicial) e um tempo para o trabalho e apontando, insistentemente, para necessidade de uma formação mais longa e diversificada, que acompanhe o ser humano ao longo de toda a sua longevidade.
        Os sistemas educativos de ontem são, hoje, completamente obsoletos. Tal evidência justifica-se, em parte, porqueos processos de mudança cultural são lentos a ganhar consistência nas perceções dos actores” (Clímaco, 2005:30). Estes, têm de abandonar os moldes de funcionamento que serviam as pessoas de ontem e equacionar novas modalidades, estratégias e recursos de ensino e aprendizagem que preparem as pessoas para o amanhã. Têm que conceber e implementar paradigmas que sirvam a sociedade actual, alicerçada, cada vez mais, no conhecimento e na informação. Dentro de cada sistema educativo, "os tempos e as áreas de educação devem ser repensados, completar-se e interpenetrar-se de maneira a que cada pessoa, ao longo de toda a sua vida, possa tirar o melhor partido de um ambiente educativo em constante ampliação” (Delors et al, 1997:101).
        Conscientes desta realidade, estão os relatórios sobre o emprego produzidos pela União Europeia que, sublinhando cada vez mais os aspectos relativos à educação, instam “a um maior investimento no capital humano, através de uma melhor educação e do desenvolvimento de melhores competências reconhecendo (…) a importância crescente da aprendizagem ao longo da vida (…) (e considerando que os) sistemas educativos devem ser, simultaneamente, mais eficientes a produzir elevados níveis de excelência e equitativos a elevar o nível geral de competências”[1],ao mesmo tempo que apontam a necessidade de valorizar “a criatividade, a capacidade de pensar lateralmente, as competências transversais e a adaptabilidade”[2].
         Cientes de que a qualidade dos seus recursos humanos é a principal mais-valia, no enfrentar do futuro, os sistemas educativos europeus desdobram-se em iniciativas de modernização, diversificação e prolongamento da sua formação inicial, intensificação da formação em contexto profissional e, entre outras deligências, de oferta, cada vez mais alargada, de formação diversificada ao longo da vida. Direcionados para a igualdade de oportunidades, e para o desenvolvimento de processos de “remediação”, como arma de luta contra a exclusão, centralizam esforços na melhoria da formação de professores, investem nas tecnologias da informação e comunicação e concedem margens, cada vez maiores de autonomia às suas organizações escolares, qualquer que seja o tipo de sistema educativo em que as mesmas se insiram.
       Apostando numa escolaridade mínima obrigatória que se situa numa média de nove anos de frequência, alguns países membros de União Europeia, como a Holanda, a Hungria e Portugal, sentiram, nos últimos anos, necessidade de ampliar este período mínimo de formação inicial para os doze anos de escolaridade, situação que, em 2011/2012, passou também a ser adotada pela Alemanha onde o fim da escolaridade obrigatória passa a ocorrer apenas aos 19 anos de idade. Alguns países como a Bélgica, a Alemanha e a Polónia contemplam ainda, na reta final do ensino obrigatório, dois a três anos de frequência a tempo parcial. Em simultâneo com este aumento do período de tempo em que ocorre a escolaridade obrigatória, tem sido registada uma grande preocupação com a formação profissional que, mais atenta à complexidade dos processos económicos, tem procurado redefinir contextos de trabalho e desenvolver novas profissionalidades.  
Apesar da partilha comum de preocupações e do desejo de convergência nas linhas de acção, não existe um modelo educativo universal no continente europeu. Diferenças fracturantes de religião, de cultura e de ideologia originam e sustentam modelos de natureza e funcionamento diferentes. Segundo Vaniscotte (2001),"mesmo dentro dos países da União Europeia, reina uma grande diversidade. Porém, coexistem duas concepções: uma que considera o ensino primário e o primeiro ciclo do ensino secundário de maneira global (uma mesma escola para todos); outra que considera que uma primeira selecção deve ocorrer desde o início do secundário" (Vaniscotte, 2001:53).
Dentro do espaço da Europa comunitária podemos encontrar quatro tipologias diferentes de sistemas educativos. O sistema da escola única, ancorado no lema “uma escola para todos”, que predomina no norte da Europa; o sistema da escola polivalente, característico do Reino Unido que, oferecendo várias possibilidades de escolha, ao nível do secundário, deixa ao critério do aluno e seus familiares a decisão final acerca do tipo de formação a frequentar; o sistema de ensino em fileiras, que se desenvolve na Alemanha e países limítrofes, baseado na orientação precoce e respectiva canalização para vários tipos de formação; o sistema de ensino organizado à volta de um tronco comum de conhecimentos a adquirir e de competências a desenvolver, inspirado na escola única dos países nórdicos mas carregado de valores e de tradições, que ocorre nos países da Europa mediterrânica. Não se encaixando em nenhum destes modelos surge o sistema de ensino Irlandês onde se misturam, por um lado a influência anglo-saxónica e por outro, a dominância da cultura católica, sendo que a Igreja controla todo o sistema. Desta forma, 97% das escolas são públicas e confessionais e apenas 3% são privadas e laicas.
Não obstante a aparente impossibilidade de desenvolver uma maior convergência no que respeita à educação, dentro da Europa, “existem vontades e possibilidades de harmonização dos estudos no ensino superior que não existem no ensino escolar. Há o desejo de tornar possível a mobilidade dos trabalhadores, de aproximar as formações. A autonomia das universidades permite uma organização dos estudos muito mais próxima, de um país para o outro. Os acordos assinados, (…) sobre a harmonização de diplomas, o desenvolvimento do sistema ECTS (European Credit Transfer System) para o reconhecimento, nos cursos, dos períodos de estudos feitos no estrangeiro, traduzem este desejo de aproximação” (Vaniscotte, 2001:60). De qualquer forma, o desenvolvimento de programas europeus com mobilidade de alunos e professores tem envolvido todos os países da União Europeia permitindo, mais seguramente do que as reformas estruturais, um melhor conhecimento dos envolvidos.
Os modelos organizativos em que se desenvolvem os sistemas educativos dos países europeus são, também eles, divergentes. Uns são centralizados, com nuances de maior ou menor grau de desconcentração, outros são completamente descentralizados. As principais diferenças entre eles prendem-se com a detenção do poder de decisão. Num modelo organizativo centralizado o poder de decisão centra-se “no coração da organização, formando-se a partir desse núcleo básico uma estrutura piramidal de cima para baixo” (Espaillat, 2010). A sua desconcentração, não obstante ocorrer sob vários signos, consiste apenas em “estender o poder central, sem o transferir para outras instâncias, criando estruturas intermédias que aplicam as orientações” (Benedito, 2007:58). O modelo organizativo descentralizado, ao contrário do anterior, assenta na “transferência de algumas competências a outros níveis de decisão e de gestão autónomos e com personalidade jurídica distinta a que corresponde a tomada de decisões políticas e administrativas e a assunção plena das responsabilidades” (Espaillat, 2010).
Apenas uma pequena minoria dos países da União Europeia apresenta sistemas educativos organizados em regimes organizativos descentralizados, circunscrevendo-se estes aos países nórdicos, Reino Unido, Bélgica e Holanda. Porém, conceitos como: agilidade administrativa, autonomia escolar, desburocratização, eficiência, gestão de conflitos, governabilidade, identidade regional, participação social e redistribuição de poder, são cada vez mais valorizados dentro dos países com sistemas educativos centralizados e “ao longo das duas últimas décadas, muitos sistemas educativos europeus atribuíram maior autonomia e responsabilidade às escolas, fazendo recair na escola e, nalguns casos, na sala de aula exigências cada vez maiores em termos de responsabilização”[3].



Referências Bibliográficas:

Benedito, N.D. (2007). Modelos de Organização dos Sistemas Educativos. In: CENTRALIZAÇÃO DE SISTEMAS EDUCATIVOS E AUTONOMIA DOS ACTORES ORGANIZACIONAIS. Processos colectivos de interpretação das orientações centrais (pp 50 - 97). Universidade do Minho. Instituto de Educação e Psicologia. Recuperado em 10/04/2012 de http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=1166161.

Canário, R. (2006). A escola e a Abordagem comparada. Novas realidades e novos olhares. In: Sífiso. Revista de Ciências de Educação, 1 (pp27-36) Lisboa. Recuperado em 12/04/2012 de, http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=1166191.

Carneiro, R. (1994). A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA E DO EMPREGO. NOVOS DESAFIOS PARA OS SISTEMAS EDUCATIVOS NO DEALBAR DO SÉCULO XXI. Recuperado em 12/04/2012 de http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=1166181.

Clímaco, M.C. (2005). Avaliação de Sistemas em Educação. Lisboa. Universidade Aberta.

Comissão das Comunidades Europeias, (2007). ESCOLAS PARA O SÉCULO XXI. DOCUMENTO DE TRABALHO DOS SERVIÇOS DA COMISSÃO. Bruxelas. Recuperado em 12/04/2012 de http://www.moodle.univab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=1166201.

 Comissão Europeia, (2000). RELATÓRIO EUROPEU SOBRE A QUALIDADE DO ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO. Direção-Geral da Educação e Cultura. Educação. Desenvolvimento de políticas educativas. Recuperado em 29/04/2012 de http://ec.europa.eu/education/lifelong-learning-policy/doc/policy/rapin_pt.pdf

Delors, J.; Al- Mufti, I; Amagi, I; Carneiro, R.; Chung, F; Geremek, B; et al.(1997). Educação – Um Tesouro a Descobrir - Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI. Brasil. Edições ASA/Cortez.

Espaillat, E. (2010). Modelos Organizativos De Los Sistemas Educativos. Recuperado em 26/04/2012de:http://educanblog.educando.edu.do/index.php?op=Default&Date=201005&blogId=1176.

Eurydice, (2010). Structures des systèmes éducatifs européens 2010/2011: diagrames.Recuperado em 29/04/2012 de: http://eacea.ec.europa.eu/education/eurydice/documents/tools/108_structure_education_systems_FR.pdf.

 Eurydice, (2011). Structures des systèmes éducatifs européens 2011/2012: diagrames. Recuperado em 29/04/2012 de: http://eacea.ec.europa.eu/education/eurydice/documents/tools/structure_education_systems_FR.pdf.pdf.

Silva, J.M. (2010). LÍDERES E LIDERANÇAS EM ESCOLAS PORTUGUESAS. Protagonistas, práticas e impactos. Vila Nova de Gaia. Fundação Manuel Leão.

Vaniscotte, F.(2001). Les systèmes éducatifs en Europe. Futuribles nº 267. Recuperado em 20/04/2012, de:http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=1166031.

 Referências audiovisuais:


[1 In: Documento de trabalho dos serviços da Comissão. Escolas  para o século XXI. Bruxelas (2007), p.3.
[2] Idem, p.5.
[3] In: RELATÓRIO EUROPEU SOBRE A QUALIDADE DO ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO, (2000). Comissão Europeia. p.5.





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